Tag Archives: crítica

A crítica de mal com a literatura


Extraído de O Globo – Blogs

Por Sérgio Rodrigues

O interessante artigo de Flora Süssekind publicado na última edição do Prosa & Verso, sob o título “A crítica como papel de bala”, investe contra o “conservadorismo” e o “beletrismo” que sua autora julga hegemônicos no atual cenário da crítica literária brasileira — ou talvez devêssemos chamá-lo de ambiente de recepção de livros, pois o pensamento crítico anda mesmo um tanto anêmico. Esse ambiente, argumenta ela, vive um momento de certa efervescência com seus festivais, prêmios, oficinas, blogs e resenhas breves, eminentemente jornalísticas, mas falta-lhe o tutano de um pensamento articulado e independente que resgate a “dimensão social” da literatura. O curioso é que, num caso clássico de ponto cego, Süssekind parece sincera ao deixar de perceber que o grande elemento faltante nesse ambiente, a crítica universitária de fôlego que ela própria representa, retirou-se do debate porque quis.

Ilustração de CavalcanteComo bom exemplo do pensamento literário hoje dominante na universidade, inclusive no estilo árido e calibrado para afugentar leigos, Süssekind, reconheça-se logo, está de mal com a literatura contemporânea. Brigou com ela. Os exemplos de novidade estética que aplaude em seu artigo incluem, ao lado do poeta Carlito Azevedo e seu notável “Monodrama” (7 Letras), uma diretora de teatro, um músico e um artista plástico, expondo com candura essa malquerença ao propor quase como uma via de mão única, de fora para dentro das letras, o trânsito de fronteira entre linguagens que é sem dúvida o território artisticamente mais fértil do mundo contemporâneo. É uma pena que a autora de estudos literários clássicos — embora difíceis de ler — como “Cinematógrafo de letras” e “O Brasil não é longe daqui” (Companhia das Letras) encare de forma tão pouco generosa a tarefa de separar o joio do trigo na literatura brasileira de hoje.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

Deixe um comentário

Filed under Artigos

Crítica: para quê?


Jomard Muniz de Britto

“Treze – tive um prazer cruel em deter-me nesse número”.

Marcel Proust invocado por Walter Benjamin.

  1. Situar a obra-texto-intervenção no CONTEXTO de afinidades, interesses, repertórios, perspectivas enquanto horizonte de leituras. Criticar pode ser o passe livre para CONTEXTUALIZAR. Aprender a apreender.
  2. Problematizar o ideário estético-ideológico na dinâmica dos JOGOS de LINGUAGEM. Entre metonímias e metáforas encarar situações-limite da estética, da ética e até mesmo das TRANSideologias da contemporaneidade. O desejo de contextualizar se desdobra em ler, reler infinitamente.
  3. Rever a mitologia da crítica CONSTRUTIVA cuja função jornalística vem sendo o elogio (fácil), a celebração (mínima ou monumental), a religação dos intimismos sombreados pelo poder da mídia. Interroguemos.
  4. Contrariar demandas de autoria entre a sede e a fama, o acaso e a necessidade, a sorte e a fortuna, a profissão e a profusão dos empreguismos. Em ano eleitoral tudo se facilita ou se complica.
  5. –“O crítico é estrategista na batalha da literatura”: eis a legítima provocação de Walter Benjamin entre ruínas e suicídios. Pensemos.
  6. Compreender dialogicamente por argumentação, sem recusar as dialéticas da negatividade, a precisão conceitual e os riscos da experimentação. Criticar interpretando, mas suspendendo julgamentos autoritários.
  7. Por que nas estantes e telas da internet inumeráveis textos de poesia e narrativas desvelam a redução de escritas e escrituras teóricas?
  8. Investir nas potencialidades de reinvenção do cotidiano como tarefa de urgências antirrotineiras percorrendo das Altas Literaturas, clássicas e modernas, às práticas literárias dos internautas pelo prazer de forjar e fomentar estéticas da periferia com beijos para Heloisa Buarque de Holanda. Beijemos.
  9. Entre prova dos nove e novenas, quando alcançaremos o TREZE de Proust a Benjamin? Continuar apostando na crítica sem fetichismo, sem temor nem rancor. Sem facilidades no império dos sentidos narcísicos.

Para baixar o arquivo em PDF, clique aqui.

10 comentários

Filed under Jomard Muniz de Britto, Revista #1