Extraído de O Globo – Blogs
Por Sérgio Rodrigues
O interessante artigo de Flora Süssekind publicado na última edição do Prosa & Verso, sob o título “A crítica como papel de bala”, investe contra o “conservadorismo” e o “beletrismo” que sua autora julga hegemônicos no atual cenário da crítica literária brasileira — ou talvez devêssemos chamá-lo de ambiente de recepção de livros, pois o pensamento crítico anda mesmo um tanto anêmico. Esse ambiente, argumenta ela, vive um momento de certa efervescência com seus festivais, prêmios, oficinas, blogs e resenhas breves, eminentemente jornalísticas, mas falta-lhe o tutano de um pensamento articulado e independente que resgate a “dimensão social” da literatura. O curioso é que, num caso clássico de ponto cego, Süssekind parece sincera ao deixar de perceber que o grande elemento faltante nesse ambiente, a crítica universitária de fôlego que ela própria representa, retirou-se do debate porque quis.
Como bom exemplo do pensamento literário hoje dominante na universidade, inclusive no estilo árido e calibrado para afugentar leigos, Süssekind, reconheça-se logo, está de mal com a literatura contemporânea. Brigou com ela. Os exemplos de novidade estética que aplaude em seu artigo incluem, ao lado do poeta Carlito Azevedo e seu notável “Monodrama” (7 Letras), uma diretora de teatro, um músico e um artista plástico, expondo com candura essa malquerença ao propor quase como uma via de mão única, de fora para dentro das letras, o trânsito de fronteira entre linguagens que é sem dúvida o território artisticamente mais fértil do mundo contemporâneo. É uma pena que a autora de estudos literários clássicos — embora difíceis de ler — como “Cinematógrafo de letras” e “O Brasil não é longe daqui” (Companhia das Letras) encare de forma tão pouco generosa a tarefa de separar o joio do trigo na literatura brasileira de hoje.
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