Por Cristhiano Aguiar
Esta é uma proposta de leitura de dois recentes filmes de ficção científica: Planeta dos Macacos e X-men. Não farei uma análise que leve em conta a linguagem cinematográfica em si; não sou crítico de cinema e me falta competência para tanto. A leitura proposta é quase “temática”: pensar a respeito de questões políticas que podem ser levantadas pelos dois filmes, enfocando os protagonistas de cada narrativa.
Planeta dos macacos
A referência primeira da fábula moral deste novo Planeta dos Macacos é o romance Frankenstein, de Mary Shelley: as sempre imprevisíveis consequências do engenho científico. Segundo Joan Slonczewski e Michael Levy, em “Science fiction and the life sciences”, o romance de Shelley é o texto inaugurador das relações cada vez mais próximas entre Ficção Científica (FC) e ciências biológicas, nas quais “the quest for outer space has given way to the quest for the genome”. O século XIX não nos aparece por acaso, se pensarmos que é neste período que se aperfeiçoa a gestão biopolítica praticada pelos Estados modernos até os dias de hoje. Clonagem, engenharia genética, eugenia, prolongamento da juventude, transmissão da consciência humana para outros corpos, epidemias de vírus devastadores, próteses, doenças produzidas por experimentos científicos, simbiose entre homens e máquinas: esta é apenas uma pequena amostra de pautas reais pesquisadas pelas ciências biológicas e sociais, pautas que também alimentam inúmeros mundos paralelos construídos pela FC nas suas mais diversas linguagens narrativas: literatura, cinema, videogames, histórias em quadrinhos e RPGs.
Embora o personagem principal, César, seja um macaco, este ainda é um filme de “ator”, cujo protagonista foi construído digitalmente através da captura de movimentos do ator Andy Serkins, que já tinha interpretado, mediante tecnologias semelhantes, outro macaco antes – no filme King Kong – e também o melhor personagem criado por J.R.R. Tolkien, o conturbado Gollum. Planeta dos Macacos possui dois trunfos. Um deles é este personagem principal, cujas escolhas quero comentar logo mais. O segundo trunfo, que me interessa menos, são os efeitos especiais que deram vida aos personagens primatas em detrimento da nossa própria espécie. Nada novo: uma das fontes de renda do cinema sempre foi essa possibilidade de ativar o imaginário do público através do desenvolvimento de novas tecnologias audiovisuais. Imagino que, nos primórdios desta arte, “roteiro” ou “proposta poética” ficavam, em diversos casos, em segundo plano diante da maravilha que era ver uma locomotiva a vapor correr na nossa direção!
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